A crise nos Correios se intensificou em 2025. No primeiro semestre, a empresa acumulou um rombo superior a R$4 bilhões, valor que supera com folga o déficit de R$2,5 bilhões registrado em 2024, metade disso concentrado apenas nos seis primeiros meses deste ano. Porém, o caminho segue íngreme após os diretores afirmarem que o rombo […]
A crise nos Correios se intensificou em 2025. No primeiro semestre, a empresa acumulou um rombo superior a R$4 bilhões, valor que supera com folga o déficit de R$2,5 bilhões registrado em 2024, metade disso concentrado apenas nos seis primeiros meses deste ano.
Porém, o caminho segue íngreme após os diretores afirmarem que o rombo deste ano pode chegar a R$10 bilhões, o que torna a crise ainda mais grave. O prejuízo persiste desde 2022, há 12 trimestres, resultado de vários fatores, entre eles a perda de espaço no mercado de encomendas.
Os motivos por trás da crise dos correios
Tudo começa em 2022, quando a empresa passa a registrar prejuízo e mantém déficits pelos 12 trimestres seguintes. O principal fator foi a concessão de dois reajustes salariais expressivos. O primeiro, de 9,75% retroativo a 2021, e o segundo, de 10,12%, quase o dobro da inflação, acompanhado de um abono de R$1 mil por funcionário. O impacto total chegou a R$820,5 milhões naquele ano e gerou mais de R$1,3 bilhão em 2023.
Em 2023, o ano sofre mais uma vez com o crescimento de despesas com o pessoal, apresentando uma alta no custo da folha e sofrendo os efeitos de 2022.
Porém, o principal ponto negativo deste ano foi a criação da Remessa Conforme, que passou a cobrar imposto de 20% sobre compras internacionais de até US$50 e autorizou empresas privadas a fazer o transporte doméstico, retirando a exclusividade dos Correios.
O resultado para os Correios foi uma perda de R$2,2 bilhões em receita. A empresa registrou uma queda de R$531 milhões na receita internacional em 2024 e uma redução de R$1,3 bilhão no primeiro semestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024.
Vale ressaltar que as compras internacionais representavam cerca de 25% de todo o faturamento, isso desmontou uma das principais fontes de lucro da empresa.
Já em 2024, o caixa dos Correios sai do amarelo e entra no vermelho. Novos aumentos salariais acrescentam R$894 milhões em despesas, a empresa assume a dívida previdenciária da PREVIC de R$2,4 bilhões a serem pagos em 349 meses, além de outros R$5,4 bilhões futuros e o caixa desaba 92%, passando de R$3,2 bilhões para R$249 milhões. No fim do ano, a estatal ainda toma R$550 milhões em empréstimos, com juros altos, e depois busca mais R$1,8 bilhão em julho de 2024.
Além disso, a falta de modernização da empresa se tornou um fator decisivo. Os Correios, que já concentravam 50% do mercado de encomendas, hoje respondem por apenas 25%. A estatal perdeu espaço por não acompanhar concorrentes mais tecnológicos e ágeis, enquanto seus custos e seu modelo operacional permaneceram praticamente iguais.
Além de operar com pouco caixa, os Correios também deixaram de tomar decisões estruturais nos últimos anos. A empresa ficou presa a limitações financeiras e à ingerência política, enquanto outros países modernizavam seus sistemas postais e a estatal permanecia estagnada.
O estouro da crise
O ano de 2025 se vê como um ponto de ruptura nessa história datada a mais de 3 anos. o principal e mais óbvio motivo é o prejuízo estimado de R$10 bilhões até o fim do ano, sem precedentes para uma empresa deste porte.
Outro ponto é o aumento do impacto fiscal nas contas públicas. Em 2025, a previsão para as estatais era de um déficit de R$6 bilhões, mas, por causa dos Correios, a projeção subiu para R$9 bilhões, o que obrigou o governo a contingenciar R$3 bilhões em ministérios. Este também foi o ano em que a crise da estatal passou a ameaçar o cumprimento da meta fiscal, algo inédito até então
A queda de receita agravada pela Remessa Conforme ganhou força neste ano. Em 2025, a empresa perdeu R$1,3 bilhão no primeiro semestre. É a primeira vez que os efeitos completos do programa aparecem de forma integral no caixa
Os gastos com pessoal também atingiram o pico em 2025. Os reajustes salariais concedidos entre 2022 e 2024 continuaram produzindo efeitos acumulados e, apenas no primeiro semestre, elevaram os custos em mais de R$547 milhões.
Por fim, 2025 marca o momento em que o caixa da empresa se esgota. Os Correios atrasam R$2,75 bilhões em pagamentos e, com um caixa negativo e dívidas acumuladas, a situação se torna insustentável.